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Volta e meia me questiono sobre a reprodução de alguma peça artística. Onde está o valor real da obra? Somente em sua composição? Pode o artista que a reproduz com fidelidade ter um valor semelhante ao do compositor? Com essas “eternas” dúvidas na cabeça me dirigi na última sexta-feira (19) ao Metropolitan – que os novos donos querem que chamemos de “KM de Vantagens Hall” – para assistir ao show do Ummagumma – The Brazilian Pink Floyd.
Era a turnê “You Gotta Be Crazy Tour”, uma homenagem aos 40 anos do disco Animals (1977), o décimo registro de estúdio do Pink Floyd, e integrante da quadra incrível de álbuns lançados entre 1973 e 1979, que incluem também o Dark Side of the Moon (1973), Wish You We Here (1975) e termina com o The Wall (1979). O repertório conta com o Animals e o Dark Side of the Moon na íntegra, além de sucessos de outros discos.
As mesas distribuídas pelo salão do Metropolitan (!!!) deram o ar certeiro ao nível de contemplação exigida pelo show. Os incautos, os desconhecedores da obra original do Pink Floyd poderiam argumentar que ficar sentado não condiz com um show de rock. O ledo engano é perdoado quando a banda sobe ao palco e os primeiros acordes de “Pigs on the Wing (Part I)” começam a soar pela casa. Silêncio total cortado ocasionalmente por algumas palmas que escapam, mas logo são abafadas por se darem conta de que ali começou um espetáculo contemplativo, uma viagem no tempo, uma oportunidade de ouro para os fãs. Não se trata de uma imposição de silêncio. É um respeito tal pela obra, que faz a hipnose ser quase que imediata. Assim não é preciso dizer que os 40 minutos do disco passaram voando.
Após o Animals, a banda chamou uma convidada especial para o palco: a filha do vocalista Bruno Morais que, do alto de seus três anos de idade, cantou “Another Brick in the Wall Pt II” com o pai e embasbacou a platéia inteira, que parecia ter esquecido o poder da música de atravessar gerações. O show seguiu e a banda trouxe ao palco a convidada especial da noite, ninguém menos que Lorelei McBroom, backing vocal do álbum Momentary Lapse of Reason (1987) e da turnê de Delicate Sound of Thunder (1988). Foram executados então clássicos da banda como o sempre emocionante tributo a Syd Barret, “Shine on you Crazy Diamonds (PT I-V)”, além de “Have a Cigar” e “Echoes” que trouxeram de volta aquela sensação hipnótica, preparando terreno para o que, para mim, seria a cereja do bolo.
Uma das lembranças mais fortes que tenho de meu pai é, sem dúvidas, os domingos de manhã em que ele colocava o Dark Side of The Moon para tocar, e com o encarte na mão – para acompanhar a letra – cantava “Time”. Cresci ouvindo esse disco por inúmeras razões, que vão desde a memória afetiva até o embasamento que achei que o mesmo me traria (e de fato trouxe) em música, primeiro no violão e posteriormente no contrabaixo. É o meu disco preferido. O meu subconsciente me manda dizer que é o disco mais absurdo já feito pela raça humana, mas a racionalidade me faz admitir que “isso é uma questão de gosto”. Mas quando começou a dobradinha de “Speak to Me” e “Breathe”, meu lado racional cedeu à emoção e pude enfim falar para quem assistia ao show comigo: “esse é o disco mais absurdo já feito pela raça humana”.
Após a execução primorosa de “Time”, foi a vez de “The Great Gig in the Sky”, em que a backing vocal Isabela Morais dividiu magistralmente os vocais com Lorelei McBroom, criando uma atmosfera incrível de imersão, que acompanharia a banda até o fim do show. O encerramento do Dark Side com ”Brain Damage” e “Eclipse” parecia dar contornos finais às duas horas de show, o que seria justo e bastante confortável para a banda. Mas ainda houve tempo para eles nos presentearem com “Wish You We Here” e o encerramento cantando a plenos pulmões de “Confortably Numb”. No fim, como era de se esperar, aplausos de pé de todo um Metropolitan (!!!) certo de que viveu uma experiência incrível, uma reprodução muito digna dos hinos compostos pela banda.
A pergunta feita no início do texto seguiu ecoando em minha mente. Pode o artista que reproduz uma obra com fidelidade ter um valor semelhante ao do compositor? Durante pouco mais de duas horas o Ummagumma mostrou que sim! Que se faça saber ao resto do mundo: o legado do Pink Floyd no Brasil está em ótimas mãos.
A BANDA
Bruno Morais – vocais, guitarra, lap steel e violão
Eduardo Botrel – guitarra, violão e lap steel
Marcos Alexandre – baixo e vocais
Felipe Batiston – teclado, violão e vocais
Felipe Duarte – guitarra
Renata Garcia Diniz – teclados
Stéfanny Rezende – teclados
Otávio Peixe – bateria
Alesandro Brito – percussão
Isabela Morais – backing vocal
Maria Isabel – backing vocal
Helen Mariah – backing vocal
Elisangela Theophilo – backing vocal
Oswaldo Duarte – sax
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
Lorelai McBroom – vocais
Por: Fabrício Teixeira
Fotos: Gabrielle Pereira